quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“Pra ti, meu bem, tudo aquilo que sonhaste!”

Cansei. Eu e mais meio mundo. Ou mais, talvez. Fique com este trecho de Fernando Pessoa, que diz muito do que eu gostaria de dizer a você, se personificado fosse. Que o outro um pouco mais adiantado que você, venha, e seja ao menos um pouco parecido. Me fez provar tantas coisas! De provações todo mundo precisa, afinal, é disso que se faz o fazer de cada dia, mas, precisava ir até o fim? Pode vir. Eu aguento mais uma dose. De peito aberto.
Mas só porque de gênio sou como uma cachaça. Pronta pra gritar e olhar bem fundo nos seus olhos. Armada, com escudo, espada e tudo o mais. O próximo que vem é ano de Oxum e Ogum. É guerreiro, é Jorge, é da Lua, é homem e é mulher.  Pois é. Ai de você, ai! Tá, tudo bem.  Não faz cara feia que isso pra mim é fome. Talvez eu seja dura demais, eu sei. Mas é assim que é. 

Depois de tudo, enfim, o fim. Saudoso fim que sempre chega.  Só para poder recomeçar. Acho lindo. E eu? Continuo, de alma, uma água com açúcar. Percebi que deixei pelo caminho coisas preciosas, na esperança que o fardo ficasse mais leve. E assim, passei além do Bojador – seja lá o que Fernando Pessoa quis dizer com isso.  Ledo engano. O que ficou dobrou de tamanho, impossibilitando a caminhada. Mas cheguei. Cheguei até o próximo, o seguinte, e próximo ao seguinte, e seguinte ao próximo, e assim será enquanto o eu durar.  Desejo, com todas as forças do universo, tudo aquilo que sonhei. E ainda sonho.




....
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador.
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa – Mar Português
Chá para o desaniversário de 2009: eu não quero ver gente maluca
Chá para o desaniversário de 2009: eu não quero ver gente maluca

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Enquanto um se queixa, o outro se identifica

Dois amigos conversam num dia chuvoso, bem perto do fogo:

-Depois de tudo, ficou um silêncio e eu disse a ela que estou acostumado a ver as pessoas irem embora ou morrerem, e pô, ela ainda faz isso comigo? Não dá. Não aguentei.
-É. O mais irônico é que eu sinto a mesma coisa em relação às pessoas. O que fazemos de errado que elas simplesmente... se afastam, nos desprezam ou, são desleais?

E o outro, encolhido, respondeu após um profundo suspiro:
-Algumas pessoas são predestinadas a viver sozinhas. É o que eu acho. "A mim me basta eu",  máxima se torna verdadeira.
-É, tens razão. Talvez a solidão não seja tão selvagem e perturbadora quanto aparenta. Não me permito racionalizar as coisas, mas às vezes é só o que me resta.

domingo, 13 de dezembro de 2009

é a velha história da cobra e do

vagalume
eu não brilho e tu não brilharás também

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Adoro a lógica dos sonhos;
adoro a forma com que se desenrolam.
Mas dificilmente extraio ideias dos sonhos.
Tiro-as da música ou dos lugares por onde ando.


-Lynch

sábado, 28 de novembro de 2009

Nada é por acaso

Este blog, como o próprio nome diz -Anotações-, busca em pequenas anotações retratar alguns fragmentos da realidade. Para a autora, o cotidiano é  cheio de significados, e é impossível isentá-lo de poesia. Toda a graça e magia acontece nas pequenas coisas. E muitas anotações feitas, até com os olhos, são assim, graciosas e mágicas.

Ontem, enquanto conversava com dois amigos, um deles, espantado, afirmou: "mas nossa! Só problemas, hein?". De certa forma ele tinha razão. Apesar de rir e brincar com as histórias, elas falavam só de problemas. Dramalhões mexicanos em que nada se encaixa Certa vez, foi dito que nada acontece por acaso, e sempre acreditei nessa máxima -se assim pode ser chamada.

Um senhor, professor de literatura, dos cabelos brancos compridos até a cintura, de óculos grande nos olhos, alto, bem alto e meio corcunda, no seu andar transfigurava a aparência de um Mago -ao menos para mim. Cruzei com ele várias vezes na rua e também no metrô,  morávamos muito próximos. Nunca soube quem ele era, e nem ele a mim.

Só sabia o básico: professor de literatura. Isso despertava em mim uma curiosidade absurda. Sempre tive vontade de trocar alguns miúdos com ele, mas nunca me atrevi a puxar algum assunto. Sempre o via indo e vindo. Sabe aquelas pessoas que a gente sempre cruza na rua, ou porque sai no mesmo horário, ou porque fazem o mesmo caminho, ou por força do destino?

Algum tempo atrás recebi um telefonema dizendo que uma pessoa havia falecido. Fiquei espantada ao ver que o acaso -ou chame como quiser- de bobo, nada tem: disseram que ele teve uma morte tranquila. Aparentemente, chegou em casa, sentou na poltrona e ali ficou. Seu semblante era de felicidade, parecia sorrir.

Hoje, eu, a ânsia no peito para abraçar o mundo, a inquietação e a lembrança do comentário do amigo, fiicamos em casa.  Me comovi quando um textículo feito por sua esposa caiu em minhas mãos. Tive a certeza, mais uma vez, de que nada, mas nada acontece por acaso -por mais que esta frase seja falada aos sete ventos a todo o tempo. Aí vai:



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Em meio à tempestade,

você chegou bem perto e quase que sussurando me disse:  "você vê o mundo com muita poesia. Isso não é bom".

Quiçá esse alguém tenha razão. Fica sem explicação o absurdo pensar, e até sonhar com você que ainda existe em mim.

Mato dragões, enfrento batalhões e sinto não querer chegar até você. Às vezes, acho que é também por isso que me escondo atrás de todas as portas quando te sinto mais perto.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ela me contou

que um dia, em NY, um mendigo louco, daqueles desvairados que andam por aí falando sozinhos, com as roupas rasgadas, um cachorro na sombra, mendigando de boteco em boteco, divertido sorrindo a toa em sua desgraça e fedidos como o pior esgoto de São Paulo, viu que ela era a única que lhe dava certa atenção disfarçadamente com o olhar, e não hesitou em gritar: "Smile! Smile! And the world will be yours!", enquanto ela passava.

Obviamente, nin-guém na rua entendeu.



Sorria! Sorria! E o mundo será seu!

E eu? Ah, eu guardei a sete chaves.

sábado, 14 de novembro de 2009

Era uma vez Cinzeiros Cheios e Copos Vazios...

...O Preço,

Olhou preguiçosamente para o despertador que marcava seis horas e vinte minutos da madrugada. Levantou, foi até a cozinha e passou um café fresco. Ao invés de pegar o jornal como de costume, resolveu ligar a tevê no noticiário da manhã. Sentou-se na beira da cama e ali ficou a assistir por alguns minutos. Logo depois, cansou-se de tantos delírios e resolveu arrumar a cama, abrir as janelas, deixar o sol entrar, lavar o rosto, escovar os dentes e dar um rumo na vida.
Como se escovar os dentes e lavar o rosto mudasse algo no reflexo que veria no espelho, jogou a água que julgou bendita na face, e olhou os respingos. Continou a olhar. Nada via de incomum, apenas os respingos. Uma das coisas que gostaria de mudar era sua capacidade de dizer sim e a de não dizer não. O equilíbrio dessas palavras em sua vida não existe.
Ouviu certa vez, que muitos nãos custam um único sim durante uma vida. Achou muito sábio, mas não era o tipo de filosofia que conseguiria se adequar rapidamente. Sempre deixa tudo para depois. Então, que diferença faria esperar calmamente pelo dia em que irá acordar e dizer, 'não. Agora não' em frente aos respingos no espelho? O preço que se paga por um não é tão caro quanto um sim.
Lembrou-se de ter deixado umas gotas de café caírem sobre umas folhas em sua escrivaninha, e pensou, 'mais vale uma escolha mal feita, do que uma escolha não feita'. Estaria disposto a pagar? E pensou: 'tem dias em que é melhor se fechar'.
Fechou todas as cortinas, desligou a tevê, desarrumou a cama, olhou para o relógio que marcava sete horas e vinte minutos e voltou a dormir.

Aqui tem mais, ó cinzeiroscheioscoposvazios

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Fernando fala muito da minha Pessoa

No entardecer dos dias de verão, às vezes
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria.

Ah, os sentidos, os doentes que veem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão
Bastar-nos-ia sentir com clareza a vida
E nem repararmos para que há sentidos.

Mas graças a Deus que há imperfeição no mundo
Porque a imperfeição é uma coisa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir
(Enquanto os olhos e ouvidos não se fecham).

Fernando Pessoa -ou melhor dizendo-, Alberto Caeiro em uma das páginas de seus poemas completos.

domingo, 1 de novembro de 2009

22:30 - Um péssimo horário para morrer

“Tudo exatamente como planejei. Tudo exatamente como eu planejei. Sabe o que acontece agora que matei? Matarei. Matarei. Matarei. Matarei”.
Matanza – Matarei


Cansados, exaustos, impacientes, frenéticos, preocupados e ansiosos em uma sexta-feira (30), véspera de feriado em São Paulo. Feriado este, em homenagem àqueles que já se foram, aos chamados, finados, enfim. Uma espécide de celebração à nostalgia do fim.
Sentados, queriam chegar em casa, quando todas as luzes se apagaram com o trem ainda em movimento. De súbito, as portas abriram e as únicas luzes que restaram foram as da estação. A curiosidade por saber o que estava a acontecer foi imensa. 

Só sei do que vi
A música parou de tocar nos ouvidos; os pés ficaram inquietos; as mãos começaram a suar frio; as bolsas e mochilas foram apertadas ao corpo; as conversas foram deixadas pela metade; o medo do desconhecido e os outros sentidos foram atiçados. A única coisa que se fazia sabida era a de que todos ali queriam chegar em casa, sãos e salvos. De repente um sinal, e a luz-no-fim-do-túnel: “atenção! Estamos parados devido à presença de usuário na via na estação à frente, Anhangabaú”. Todos, mesmo que inconsciente, soltaram um coro que inspirou metade tristeza e metade indignação. Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Tsc, tsc.

Em respeito ao fim
Maria de Lourdes, 57 anos, resmungou o tempo todo: “não poderia ser pior? Trabalhei o dia inteiro, aguentei chefe na minha orelha, cobri o plantão de duas pessoas e ainda tenho que enfrentar isso para ir embora? É um absurdo! Pode até se matar, mas não estraga a vida dos outros, né?”.
O caos instaurou-se. De tanto que foi, o riso no rosto das pessoas era inerente à situação. Não havia mais solução. Nenhum trem passou e a estação ficou lotada. Só rindo para não chorar. Ficaram a mercê de uma voz que pronunciava de cinco em cinco minutos calmamente: “senhores usuários, estamos circulando com velocidade reduzida, devido a presença de usuário na via”. Às vinte e duas horas e trinta minutos de uma sexta-feira, véspera de feriado. Definitivamente, um péssimo horário para morrer. Mas quem é Deus, afinal, não é? Às vinte e três horas e quarenta minutos, a normalidade voltou. Claro, em respeito ao finado fim.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Espiritualidade

As pessoas paradas em pé escutavam suas próprias músicas, mergulhadas em seus únicos pensamentos. Enquanto ela, a menina -com cara de mulher- lia atentamente: "suponhamos que existisse no universo um planeta no qual fosse possível nascer uma segunda vez. Ao mesmo tempo, nos lembraríamos perfeitamente da vida que tínhamos levado na Terra; de toda experiência que teríamos aqui adquirido. Talvez existisse um planeta em que se nascesse uma terceira vez, com experiência de duas vidas já vividas".
Lembrou de sábado à noite, quando estava sentada na calçada de madrugada com amigos, ouvir um taxista de cabelos brancos dizer:  
-"a vida acaba aqui? Ué, então vamos matar, roubar, fazer de tudo, não é? É assim que eles pensam. É fácil demais usufruir de um pensamento desse. Para que fazer o bem, então? Se fosse assim, exatamente assim, não teria um porquê".
E continuou a ler: e, talvez, um outro planeta e outros mais, em que a espécie humana renasceria, subindo cada vez um degrau a mais (uma vida) nas escala do amadurecimento. Era essa a ideia que Tomas fazia do eterno retorno". 

"Nós, aqui na Terra (no planeta número um, no planeta da inexperiência), podemos ter apenas uma ideia muito vaga daquilo que acontece com o homem nos outros planetas. Teria ele mais sabedoria? Estaria a maturidade a seu alcance? Poderia atingi-la através da repetição?", e suspirou "...o otimista é aquele que acredita que a história humana será menos sangrenta no planeta número cinco. O pessimista é aquele que não acredita nisso".

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Des-gosto

Agosto passou. Finalmente!
Não. Finalmente coisa-nenhuma.
Agosto passou e deixou em Setembro
o (des)gosto de ter que passar por Agosto.
Está aberta a caça às Bruxas
e a tudo de sobrenatural.
Bichos escrotos, voltem para o esgoto.
Homens primatas, voltem para suas cascas.
E não. Não é Halloween. Ainda.
É só Agosto.
E o resto de um Des-gosto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Verde que te quero ver

-Você já procurou o significado da palavra "verde" no dicionário?
-Não.
Ver.de
(ê) adj 2 gên 1. Diz-se da cor que resulta da combinação do azul com o amarelo; 2. da cor das ervas; 3. diz-se da planta que ainda tem seiva, não está seca, e do fruto que ainda não está maduro; 4. diz-se da carne fresca; 5. diz-se de uma qualidade de vinho ácido; 6. fig que ainda não se desenvolveu completamente; 7. que se refere aos primeiros anos da existência; 8. forte, vigoroso; 9. inexperiente; 10. tenro, mimoso, débil; sm 11. a cor verde.
-Agora leia como se não tivessem pontos, siglas, e veja o que acontece.
Verde
: diz-se da cor que resulta da combinação do azul com o amarelo, da cor das ervas. Diz-se da planta que ainda tem seiva, não está seca, e do fruto que ainda não está maduro. Diz-se da carne fresca. Diz-se de uma qualidade de vinho ácido, daquilo que ainda não se desenvolveu completamente, àquilo que se refere aos primeiros anos da existência. Forte, vigoroso, inexperiente, tenro, mimoso, débil. A cor verde!
-Nossa!
-É. Não parece uma poesia?

domingo, 23 de agosto de 2009

Conversas de boteco

Estava escrito: "aposte a sua vida, ela sempre ganha". Pensei alto, "talvez ela sempre ganhe mesmo, contra seja-lá-o-que-for". Ela ouviu e logo retrucou, "na verdade, é a frase de um amigo. 'Vou ver se aposto a vida no bingo, prá ver se ganho'. Filosofia de boteco, sabe?".
E eu, continuando, "adoro essas filosofias. No jogo do bicho, será que a vida ganha? Hahahaha. Não deve ter "humano" lá; eles contam apenas os irracionais, né. Que, aliás, às vezes são mais racionais do que os próprios seres humanos (se é que podem ser chamados assim).
Como diria João Antônio, "cada um defende a sua e atira na do outro". Aposte sua vida no jogo, só pra ver se realmente ela sempre ganha no jogo da vida.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Se nada mais der certo


Quando acontecer -se acontecer- você vai continuar a roer as unhas, e elas vão continuar a te corroer. Ninguém nunca te ensinou a não ser roubado. Mas a roubar... já é outra história. Não tem dias em que você gostaria de ser uma pipoca? É, uma pipoca. Uma pipoca que explode toda vez que esquenta. 'BUM!'. Claro, isso tudo só Se Nada Mais Der Certo.
YouTube. Assista!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Na Espera

Em 1988 existiam 376 registros com seu nome no Serasa, sim, aquele limbo para onde levam os nomes de pessoas inadimplentes. Logo, tudo o que ele fazia tinha de ser comprovado. Não era nenhum daqueles 376, apenas teve a infelicidade de ser batizado com o mesmo nome, e ser filho de uma mãe Alves e um pai Silva. Até hoje alguns equívocos ainda acontecem.
Hoje, no ano de 2009, seu José Alves da Silva, um velhinho de 77 anos, tem câncer de pele e quer se curar. Buscou os serviços do Estado e, novamente, por infelicidade do "maldito" nome -como o mesmo diz-, sua biópsia fora trocada com a de outro José Alves da Silva, que, por sinal, tem câncer de pulmão e não de pele.
O conheci na sala de espera, enquanto Margarida salvava Maria. Ele contou sobre o Serasa, sobre a troca da biópsia e disse que estava ali para resolver pela quinquagésima vez esta história. Indignado, disse que se o Estado, os médicos, e os funcionários daquele hospital não sabiam, o câncer estava a crescer e não ia esperar a boa vontade de outros. Mais brasileiro do que sr. José Alves da Silva, impossível!

sábado, 8 de agosto de 2009

Névski, Paulista, Times Square e Dropsie

Ao mesmo tempo em que a menina de All Star, jeans e iPod nos ouvidos anda apressada pela calçada da vida, o chale azul claro da moça que está a passar fica preso no botão da bolsa feita de couro da outra que o solta com rara gentileza; a moça bonita, sozinha a andar, avista um amigo que não vê há tempos e como uma surpresa pula na frente dele para dar um abraço saudosista; a mendiga fedida enrolada em sacos plástico faz uma súplica aos céus para que ao menos uma moedinha caia em seu potinho de esmolas, e que por favor, “meu santo Deus!”, nesta noite não chova no seu papelão.
Enquanto os carros passam em um movimento frenético quase que indestrutível e as pessoas não se olham mais nos olhos, o ambulante de filmes piratas oferece aos seus possíveis fregueses uma promoção de “três por dez” para conseguir uns grandes trocados e voltar para sua terra de origem antes que o Rapa chegue; as madames de bolsas e casacos de pele animal passeiam empinadas, olham os óculos escuros na vitrine, e compartilham futilidades indizíveis sobre seus maridos empresários provedores do pão de cada dia de seus filhos que cultivam a infidelidade com a secretária de óculos e saia no corpo colada sem que elas saibam.
Em outra esquina um homem moribundo de terno e chinelos, grita pedaços da bíblia para que todos ouçam a palavra de um suposto Deus, que para ele existe e se personifica na forma de um cifrão dourado e vezenquando prateado; na frete da vitrine da livraria estão todos os lançamentos literários-contadores-de-histórias estampados a serem mostrados para a multidão que passa, e nem os percebe, nem os vê; como em uma crônica de João do Rio, um jovem-homem senta na mesa de um bar, pede uma dose de uísque e ali fica a observar toda, toda, toda essa melancolia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Coisas D'alma

Todas as músicas que se mostravam no toca-fitas, sabia de cor e salteado, sem errar o compasso e o tom de um refrão sequer. No caminho, perturbada e um tanto quanto intrigada com tal fato, a outra ao seu lado indagou:
-Escuta, como é que você sabe todas essas músicas?
Olhou para ela com um certo ar desimportante e continuou a cantarolar.
-Não é possível.
Cantarolava, cantarolava, cantarolava.
-Hein? Hã? Como é que é?
Desconfiada e insistente, continuou:
-Mas hein! Mo diga!
Cantarolava, cantarolava, cantarolava.
-É. Tá na alma, né? Só poderia. Eu sabia.
Continuou a cantarolar como se fosse a única resposta. E de fato: foi, era e é. Quem é capaz de compreender certas coisas d'alma?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Agosto

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro—e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Caio F. - Sugestões Para Atravessar Agosto

Aaaaah! (suspiros)
Um brinde ao mês do Cachorro-Louco que chegou pra atarzanar! Timtim.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mel

Não-se-sabe-como, Ele, o de Camisa Branca, já tinha identificado Ela, a de Vestido Preto e Botas de Salto Alto no meio do deserto de almas. Seus cabelos, a cor da pele, a voz, os trejeitos, o perfume, tudo. Mal sabia ele que ela era daquele tipo que gosta de se embarcar em papos e viagens trans-cen-den-tais, e não morria de amor-matado-assassinado por caras como ele (mas isto não é uma verdade absoluta).
Cuidado com as ilusões, mocinho, são profundas e enganosas feito o mar, dizia sua consciência em silêncio enquanto olhava para ela mexendo nos cabelos. Ele lhe ofereceu a mão. Pensou duas vezes antes de fazê-lo. E como num encontro mágico, suas bocas se tocaram numa nuvem cheia de desejo. Não falemos disso agora, pensou. E ficaram ali por instantes infinitos, infinitos, infinitos.
Ele pensava apenas em como seria dali pra frente e que gostaria tanto, mas tanto que ela o percebesse, e visse que ele sabia fazer mais do que amarrar os cabelos na nuca e beber uísque. Definitivamente não era o tipo de cara que segurava seus instintos. A desejava conscientemente. E sabia que era sempre amor.
Impulsiva, sem pensar em mais nada, se rendeu aos desejos de que tanto falam. Nunca pensou se deixar envolver com alguém assim em tão pouco tempo. Por um momento, pensou ter sido irresponsável por fazer algo não com tanta consciência como o de costume. Fora mais do que um simples beijo.
Rodeada de pensamentos, dizia a si mesma: pelo-amor-de-qualquer-coisa, que mal faz, ser feliz? É sempre amor, mesmo que não aquele que mora nas histórias contadas em bocas mal-ditas. É sempre amor.
E naquele momento foi, como numa comunhão sagrada, amor. Fez-se amor. Foi amor. E brilharam. Brilharam como Plânctons depois de fazerem amor (sim, eles Brilham!). Brilharam durante três dias e três noites. E assim se fez, delicadamente, um pouco do que pode ser Mel & Girassóis...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Girassol

Ficaram ali por instantes infinitos. Ela pensava demais, e chegou a acreditar que o que ela imagina que poderia ser talvez uma continuação às vezes não passa de um novo capítulo, que não necessariamente irá conservar as mesmas personagens do anterior, mas que poderá seguir uma ordem cujas regras nos são ilusoriamente às vezes familiares. Enquanto o de Camisa Branca a abraçava em mente, ela lembrou de algo que leu em um livro sobre a verdade ou sobre alguma verdade espalhada por aí. Era algo como a verdade é que se chega sempre longe demais quando não se quer Ir Direto Aos Fatos, e o problema de Ir Direto Aos Fatos é que não há cir-cun-ló-quios então, e a maioria das vezes a graça reside justamente nesses Vazios Volteios Virtuosos, digamos assim: que não haja beleza nos fatos desde que se vá direto a eles? Ou que não exista mistério, que seja insuportavelmente dispensável gostar dos tais circunlóquios. Ultrapasse-os, ordeno. Acontece que... Não, nada acontece - mas, por favor, não falemos disso agora. E o 'não falemos disso agora', foi o que a fez não pensar duas vezes. E ficaram ali por instantes infinitos. Que seja doce, ela pensava. Que pelo menos seja doce, doce, doce.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Um pouco de Mel & Girassóis

Ela tímida, ficou curiosa ao saber que alguém a olhava com outros olhos que não os normais e sim os de desejos incondicionais. Ele acanhado, a olhava de canto e lhe oferecia um gole de uísque só pra dizer que foi gentil. Tudo o que pairava no ar era desejo. Todos sabiam, e os dois continuavam inseridos em sutilezas, que, naquele momento, não precisavam ser ditas. Ele de camisa branca e cabelos compridos que eram grandes o bastante para amarrar na nuca; ela de vestido preto e botas de salto alto. Ele, daqueles durões que se apaixonam fácil. Ela, um dia fora amada e ferira de faca a quem a amara.
Então era desse jeito: o de camisa branca amarrando os cabelos na nuca enquanto o uísque fervilhava em sua garganta e, como num vício, como numa tara, entregava-se a ele e a tabacos lentos; a de vestido preto com botas de salto alto olhava o de camisa branca e seu uísque e pensava sobre os desejos incondicionais escondidos. Ele não lê bons livros, não sabe dançar; ela lê bons livros, adora dança com outro par, para variar. Ele tem dentro de si uma carência desejada; ela tenta não aflorar os seus instintos; ela Áries com Escorpião; ele Pisciano com ascendente em não-sei-o-quê, e, enquanto nada se decidia, ele amarrava os cabelos na nuca e ela rodeava a cerveja dentro da garrafa.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Fundamental é mesmo o amor

Fiquei ali sentada durante um bom tempo só observando. Ele, o patrono da família não disperdiçava a chance de ouvir uma boa música. Colocou no toca-discos a Gal para cantar Tom Jobim. E como mágica, de dentro daquela moça saiu uma voz doce e penetrante. Ele, encantado. Enquanto os burburinhos, sussurros e risadas preferiram ficar com as futilidades ele ficou lá, sentado na poltrona cor de sangue, de olhos fechados, apreciando a voz e em pensamento, "o nome dela é Gal".
Do outro lado da sala, uma menina-mulher olhava com doçura para aquela cena; para aquele homem de 60 anos tão encantado e ao mesmo tempo tão rabugento com a vida. Ele sozinho, ela encantada. Por um momento pensou que ele estivesse de olhos abertos. Mas não, se enganou. Ficaram os dois ali, parados, sorrindo, ouvindo a Gal cantar o Tom e, sem que ninguém pudesse perceber, cantavam juntos bem baixinho: "fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho"...

sábado, 11 de julho de 2009

Sutilezas Indizíveis

(ela lia muito, e quando contava uma história nunca sabia ao certo onde a teria lido, às vezes não sabia sequer se a tinha vivido e não lido).
Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais... Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? Eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca.
Tomou uma e me estendeu a outra. Não, eu disse, eu quero minha lucidez de qualquer jeito. Plâncton, ele disse, é um bicho que brilha quando faz amor. E brilhamos. Diz que se você só planta uma espécie de coisa na terra por muitos anos, ela acaba morrendo. A terra, não a coisa plantada, entende? Pensando melhor, continuavam sem saber, fazia muitos anos, se a realidade seria mesmo meio mágica ou apenas levemente paranóica, dependendo da disposição de cada um para escarafunchar a ferida. Loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Considerações sobre o tempo

A palavra tempo vem do masculino. Refere-se a um continuum linear não espacial no qual os eventos se sucedem irreversivelmente. Possui uma duração limitada, fazendo assim, uma oposição à ideia de eternidade. Período. Época. É uma sucessão de anos, meses, dias, horas, envolvendo a sensação de passado, presente e futuro. Estação. Duração própria. Estado atmosférico; clima. Duração de cada parte do compasso.
Se não lhe fosse perguntado o que é o tempo, saberia o que é. Se tivesse que explicar para alguém, não saberia. O grande problema é que o passado não está mais aqui, o futuro ainda não chegou e o presente voa tão rápido que parece não ter extensão alguma. E que, aliás, se o presente só surge para virar passado, não daria pra dizer que o tempo é um caminho rumo a não-existência?
O tempo é o jeito que a natureza achou para não deixar que todas as coisas acontecessem de uma vez só. É uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro, não passava de uma firme e persistente ilusão. Outros, não identificados, acreditam que não há fluxo. Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. E você?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Novinho em folha

Mais fresco do que pão de padaria às cinco horas da manhã, com vocês, o meu novo xodó: Fragmentos de Uma História Mentirosa.

Fragmentos de Uma História Mentirosa é a pequena parte de um todo. São fragmentos de uma história que jamais foi contada e, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. É a história de Carmem e Vinícius, que estão em processo de separação judicial, entre um sentimento de amor e de ódio, e, ainda com uma criança, Beatriz, no meio de tudo. Os textos postos lá estão como se fossem parte de uma réplica feita pela parte de Vinícius ao juíz, referindo-se ao pedido de separação de Carmem. Em grande parte foram usados termos jurídicos e de difícil compreensão, para obter uma maior aproximação com a intenção inicial de escrever um documento. Mas, o que se pede não é compreender os termos e sim, divagar sobre o cerne da situação e, refletir sobre o que se foi alegado. Ainda se encontram perdidas as folhas do pedido de Carmem (o outro lado), mas, quando forem encontradas, logicamente, encontraremos uma luz no fim do túnel. Enquanto isso, fica a seu critério, usar a imaginação. Os textos estão dispostos em uma ordem linear de acordo com o desenrrolar dos acontecimentos. Repito: qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Enjoy! Timtim.

A quem eu sempre sei que vai ligar no meio da noite

Escrevo para você não sei porque. Mas é engraçado o que acontece entre eu, e sim, você. Nos conhecemos quando? Me perco na hora de lembrar, sei que faz tempo. Foi lá num desencontro da vida que você me achou, e eu sem saber estava a te procurar. Algo aconteceu, mas muita coisa mudou. Hoje, sei que é você que sempre vai me ligar no meio da noite. Eu sempre sei. E você sempre o faz quando eu estou pensando em ti. Chega a ser estapafúrdio, e me sinto patética. Coisas do coração são assim, patéticas. Mas é verdade. Entre tantos que me esquecem é você quem sempre lembra de mim.
“Desde que me escribiste, en aquel día tán claro y lejano, he querido explicarte que no puedo irme de los días, ni regresar a tiempo ai otro tiempo. No te he olvidado — las noches son largas y dificiles. Lo que más importa es la no-ilusión. La maílana nace”.
Nunca te disse isso. E acho que nunca vou dizer. Me vejo pensando em você, e, me calo ao atender o telefone e quando você diz: "vamos tomar um café?", e eu respondo, "ih, hoje não vai dar". Me culpo toda vez que um não sai da minha boca pra te presentear. Você, que é tão encantador. Paixão agora mudou de nome, meu bem. É isso o que sinto por você: encantamento. Estou é encantada com você, com a sua música, com as suas palavras, com o seu som, com o seu vento. E sei, que é sempre você que vai me ligar no meio da noite, nem que seja só pra dizer: "tenho saudades".

domingo, 5 de julho de 2009

Oh! Darling.

Algum tempo atrás não podia nem sequer escutar o primeiro acorde dessa música dos Beatles. Quando ela tentava aparecer, eu já ia logo apertando o botão, e passava para a música da frente. Não dava, era angustiante. Dois dias atrás, no sorteio de músicas do iTunes ela foi a escolhida e, sem perceber, quando ví, não apertei o botão e, como não tinha ninguém por perto, me dei o direito de cantá-la aos gritos: "Oh! Darling, please believe me...", e foi uma festa. Como uma redenção, me libertei do fardo e das náuseas que me visitavam ao escutá-la. Os Beatles não merecem isso, pensei comigo.
Você deve estar se perguntando o porque. É uma longa história, e não cabe dizer aqui tudo o que aconteceu. É passado morto. Eu tive a infeliz ideia de associar esta música a uma pessoa. Parecia que inconscientemente eu queria que ela estivesse dizendo as coisas que são ditas na música pra mim, como que pedindo perdão e dizendo que nunca teve a intenção de me machucar. E aí, catapuft!, a pessoa se foi (ou eu mandei ela embora?) e a música ficou, trazendo lembranças um tanto quanto perturbadoras. Agora, sonho em algum dia poder cantá-la aos berros, no palco de um bar, junto com uma banda e com um copo de Margerita na mão, olhando fixamente para você.

sábado, 4 de julho de 2009

Mercúrio na casa 9; casa dos sonhos

A sua mente necessita de mudanças constantes. É como olhar do alto e ver a vida numa perspectiva mais ampla; insights intelectualmente eficientes a respeito das questões pessoais mais simples. O que parecia enorme no passado de repente passa a parecer menor. É o efeito de ver as coisas de um nível mais amplo. Atração por bibliotecas e livrarias cresce nestes próximos dias, uma vez que a nona casa é chama de "a casa dos sonhos", Mercúrio está bem localizado aqui, conduzindo você para as esferas da filosofia e dos temas espirituais.
Consequentemente, esta é uma fase boa para ensinar, escrever e também para aprofundar-se mais em questões de ordem espiritual. Importante é notar que a consistência dos seus esforços precisa ser bem desenvolvida, para que você não sinta um desnecessário cansaço mental, justamente por conta desta súbita necessidade de estar sempre de movendo para lá e para cá. Tudo depende da sua habilidade (ou não) de se ater a detalhes da vida prática dentro dos sonhos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Coração

Um coração é movido a emoções desesperadas e, constantemente, se sente apavorado por um compasso mais forte do que ele mesmo; solta um grito agonizante de silêncio toda vez que o compasso se faz acelerar para que ninguém consiga escutá-lo. Devias vir com certezas e não como é.
Um coração que é terno e diz as coisas mais simples e menos intencionais ao sentir-se ardente a cada batida que desaba em um soluço sem lágrimas, e que deveria ter a beleza das flores quase sem perfume; ser puro como a chama em que se consomem os diamantes mais límpidos e, entregar-se à uma paixão como aquela dos suicidas que se matam sem nenhuma explicação.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Números

Voltava andando pela rua a pensar no que teria para o jantar quando chegasse em casa. Parou no supermercado mais perto e pegou um litro de leite, seis pães, uma caixinha de ovos -daquelas com uma dúzia-, meio quilo de linguiça, um saquinho de um quilo de arroz e uma garrafa de um litro e meio de refrigerante. Dirigiu-se até o caixa que dizia, "até 10 volumes" com a cestinha de compras na mão e sacou o cartão de débito: "sem saldo", disse o menino do caixa. Para garantir, sacou o cartão de crédito e então: "não autorizada", disse novamente o menino do caixa. Olhou para as compras, guardou os cartões; olhou para o menino, para as pessoas na fila e pensou: "eles não têm culpa"; sentiu o julgamento dos olhares e a repressão dos cochicos ensurdecedores que vinham de dentro; ajeitou o casaco, afastou as supostas compras, checou se os cartões estavam bem guardados, olhou para a porta, levantou o nariz, virou as costas e foi embora sem dizer nenhuma palavra. Continuou seu caminho pensando apenas nos números.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cada macaco no seu galho?

Ontem a noite tive uma conversa um tanto quanto inusitada com o porteiro do turno da noite do prédio em que moro:

Porteiro: Ô, Andréa! Tava conversando com a sua mãe, lembrei que quando eu entrei aqui você tinha dois anos só. Tá crescida, né!
Eu: É mesmo. Faz tempo, hein?
Porteiro: É, pra você ver...
Eu: É.
(pausa)
Porteiro: Mas e aí, eu nunca mais te ví. Você nunca mais chegou tão tarde como chegava...
Eu: É, pois é. Naquela época eu tinha namorado e chegava bem tarde mesmo.
Porteiro: Ah, então por isso que não ví mais o Alemão por aí? Botou ele pra correr, é? (risos)
Eu: É. Não tava dando certo mais.
Porteiro: Ah... Tá certo, quando é assim, não dá mesmo. É melhor cada um ir para um canto.
(pausa) Sabe, o fulano de tal disse que viu ele outro dia no negócio lá, de... de, concursos, lá, não sabe?
Eu: Nossa, quem?
Porteiro: Ah, o moço do apartamento número tal.
Eu: Vish. Eu, hein? Mas o fulano nem sabia quem era!
Porteiro: Ah, mas as pessoas sabem, Andréa. As pessoas sabem. (risos)

Cada vez mais tenho a certeza de que nenhum macaco cuida do seu próprio rabo. E se cuida, adora dar uma bisbilhotada no do outro. Quem nunca o fez que atire a primeira pedra. Pois bem! Descobri que as pessoas vigiavam os meus passos, exageradamente falando, desde o dia que estava saindo do prédio junto com uma velhinha que só conhecia de vista me perguntou, "e o seu broto? Nunca mais ví! Ah, ele mora pros lados do meu filho, você sabia?".
Você não teria medo? Eu tive. E agora o porteiro. Primeiro ele sabia a que horas eu chegava e a que horas eu saía. Segundo, ele sabia que meu ex-namorado fazia cursinho para concursos públicos. Terceiro, ele ficou sabendo disso porque foi alguém que eu nem sei quem é sabia e contou para ele. Meu Deus! Queria entender da onde saem essas informações, e como é que funciona a astúcia das pessoas para ter essa relação com a vida alheia. Porque afinal de contas... Como o próprio porteiro disse, "as pessoas sabem", elas simplesmente sabem.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma previsão um tanto quanto esqui(sofrênica)sita.

Bom humor e boa disposição social tendem a ser a tônica neste período, Andréa. Dar uma de socialite, colocar o sorriso no rosto e sair falando sozinha na rua faz parte da vida, meu bem. Marte estará formando um ângulo estimulante e harmonioso à sua Lua de nascimento, e isso costuma dar uma dinamizada à vida emocional, queridinha. Cores mais leves, puras e pastéis passam a tonificar o seu emocional, e este não é apenas um momento socialmente interessante como, sobretudo, tende a ser uma fase de reações emocionais positivas. Portanto, não segure seus instintos, isto não é nada natural. Não se reprima!

É curioso observar também, Andréa, como muitas vezes passamos dias, às vezes até meses e anos mergulhados numa chateação, num ressentimento, numa convivência podre com um sentimento repugnante. Sim, remoemos, ruminamos aquilo, até que de repente - catapuft! - você engole ou vomita (pode escolher) e a coisa passa. Mágico, não? Em geral, são nos ciclos positivos de Marte com a Lua que a pessoa simplesmente sacode a poeira e dá a volta por cima, livrando-se de emoções chatas que não lhe servem mais, utilizando-se, é claro, do bom humor e das energias boas inatas ao momento. E este momento, para você, é agora!
Daí a importância de, neste exato momento que falamos conhecer gente nova, permitir-se trocar emoções com os outros, fazer coisas que lhe dão prazer. Coisas que lhe dão prazer ouviu bem, querida? Arriba, muchacha! É um ótimo momento para o intercâmbio de sentimentos, não se prenda. Vá, descubra! Passe de um para o outro sem pedir licença. A expressão das emoções, para o poeta romântico que vive dentro de você, é fundamental, sobretudo com as pessoas mais íntimas, da família, os amigos mais chegados, ou os amores, talvez, quem sabe, porque não? Sinto que você encontrará pessoas queridas envolta de uma fogueira. Isso é o que Plutão diz sobre o seu período de 29/06 a 15/07, aproveite bonitinha.