Ontem deitei na cama por cima do edredom para assistir a um filme, e lá fiquei até hoje às oito e quarenta e quatro da manhã. Não desliguei o computador, deixei a televisão ligada e nem a janela fechei. Acordei com um feixe de luz nublado entrando no meu quarto, e com um 'brugudum' do MSN. Olhei pra mim, e estava com a roupa do corpo, nem o pijama coloquei. O machucado do meu dedo acordou latejando -resultado de uns arranhões aí-, e eu percebi que estava sem as meias. Ao menos me lembrava de ter escovado os dentes depois do jantar. Olhei para o teto e comecei a pensar. Às vezes tenho uns 'lápsos' quando estou acordando, ou quando estou para dormir. Os pensamentos aparecem, simplesmente. Hoje especialmente vieram os
Homens-bomba à minha cabeça. É, homens-bomba.
Comecei a classificar assim depois de uma teoria que ouvi. Eles podem ser o que você quiser. Pode ser o cara que não te paga uma cerveja; pode ser o cara que paga até a batata frita e vai te cobrar depois; pode ser o cara que trata mal sua família e amigos; pode ser o cara que te liga dizendo que vai aparecer e aparece quando bem entende; pode ser o cara que faz um brinde ao amor-livre; pode ser o cara que te convida pra sair e não aparece.
E finalmente, pode ser um cara que você já conhecia de outros carnavais, já sabia o final da história e mesmo assim se deixou envolver. A gente sempre detecta um homem-bomba, mas os que a gente se deixa envolver são os piores, e os que aparentemente tem mais a ver com o 'ideal' que imaginamos para nós.
Ele escreve bem, tira livros da mochila pra te mostrar o que está lendo, é sensível, gosta das mesmas músicas, toca guitarra, é uma simpatia de pessoa, trabalha e divide a cerveja, é seu amigo e você não tem nenhuma segunda intenção a priori, mas ele sim, e você se deixa envolver mesmo conhecendo todos os podres dele. Te faz suspirar sinceramente, continua te atraindo como antes, faz você 'imaginar coisas' e depois de tudo ele resolve sumir, ignorar sua existência como se nada tivesse acontecido, não atende seus telefonemas, e aparece quando bem entende.
O resultado é você esperando o telefone tocar para um 'e aí, vamos tomar uma cerveja?', e na-da. É claro que o seu orgulho não deixa você tentar ligar para ele denovo, e você fica pensando o que fez de errado para isso acontecer, mas ao mesmo tempo tem certeza de que o problema está com ele, e não com você. Quando menos espera, o bonito reaparece cheio de graça, querendo ir tomar a bendita cerveja. E você? A resposta já é previsível, rs.
O tic-tac da bomba acelerou no primeiro dia, é claro. Você percebeu e mesmo assim deixou a bomba estourar. Mas porque? Em nome do que? Homens, para que tê-los? Pela lógica é mais fácil cair fora, mas porque insistimos sempre em 'ver no que vai dar'?
Deixei os pensamentos de lado um minutinho e desci para comprar o jornal. Quando voltei minha mãe estava com o rádio no último volume, escutando um cd do Altemar Dutra junto com o Cauby Peixoto. Não tinha coincidência pior. Eu escrevendo sobre questões que tento entender, e minha mãe ouvindo boleros cornísticos. Uma maravilha.
Ah, sei lá. Penso que o mundo é aberto aos amantes, e vai ser sempre assim. Ao menos deveria. Nós mulheres, esperaremos eternamente o telefone tocar, deixaremos sempre as bombas estourarem em nome da procura de alguém que seja tudo aquilo, ou pelo menos só um pouquinho daquilo outro que procuramos, e os boleros sempre estarão aí pra cantar a sofriguidão dos afetos mal ou bem tratados. Mal, na maioria das vezes. Depois depois de ontem, acordei meio Maysa hoje.